quarta-feira, 9 de abril de 2008

Tomates

Sempre que eu penso nela, o fantasma da tristeza se aproxima. Não importa onde eu esteja, em todo lugar e a qualquer momento eu sempre me pego pensando naqueles olhos. No supermercado, cercado por pessoas consumistas, vendo a vida passar sem ao menos me desejar ‘bom dia’, eu observo algumas senhoras em volta dos legumes, disputando os melhores, os não-estragados, e deixando de escanteio alguns tomates murchos. Mas eu penso que um dia eles foram tão exuberantes quanto os tomates selecionados, eles já tiveram vida útil, assim como um dia eu tive, antes de conhecer aqueles olhos virgens; de uma brancura fascinante; aqueles olhos tão negros, tão vivos, tão inquietos...


Coitado daquele que se apaixona pelos olhos dela. Mulherzinha da cara limpa, da voz melíflua, de olhar buliçoso, que covardemente, suga todos os sentimentos saudáveis que você carrega dentro do peito, e depois, sem mais nem menos, manda você jogar no lixo toda a paixão que você sente, deixando-o à deriva, comparando-se a tomates estragados em plena segunda-feira num supermercado popular. Mas eu sei que um dia ela vai chorar e vai sofrer, pela ausência prematura de alguém, pela agonia da saudade e pela dor sufocante da solidão. E então, ao invés daquela felicidade transbordante e daquela brancura contrastando com o negro de seus olhos, eu verei tomates murchos neles – rubros de tanta tristeza.


Postado em Nadificando por Raquel G.